segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Projeto Andes "O Retorno" - Jujuy/Santa Maria 1600 Km

É isso mesmo Galera, 1600 Km em um dia. Acho que este foi um dos motivos de demorar tanto para postar, ou talvez queria que a viagem tivesse continuado, porém o gosto de voltar também é muito bom, o que me faz ter vontade de partir de novo, para sentir o gosto do retorno e assim sucessivamente.
Mas vamos ao que interessa, a noite em Jujuy foi um horror, um calor infernal, hotel sem ar condicionado e nem ventilador, portanto mais uma noite de sono escasso. Acordei por volta de 4 da manhã e não conseguia mais dormir, resolvi arrumar as tralhas e partir, pois dormir não conseguiria mesmo.
A chuva tinha parado e não dava muito para saber como estava o tempo, pois ainda era noite quando deixei o hotel, por via das duvidas sai equipado com a capa de chuva.
Na saída da cidade nenhum problema, uma vez que já tinha passado por ali na ida. Já na estrada próximo ao trevo de Salta, um policial me parou, também não era pra menos, um maluco sozinho de moto em plena madrugada, mas era só para ter certeza do que estava acontecendo, conversei um pouco mostrei todos os documentos que me pediu e segui viagem. Chegando já no cruzamento com a rota 16 fiquei um pouco na dúvida e quase pego uma estrada errada na localidade de Rio Piedras, por sorte havia um caminhão parado na beira da rodovia e pude perguntar onde era o cruzamento e ele me disse que faltava uns 4 Km para o cruzamento com a 16.
Esta é outra coisa inimaginável no Brasil um caminhão dando informações a um motociclista a noite, aqui é impensável.
Segui um pouco mais e me mandei para a grande reta, Salta/Resistência, algo em torno de 600 Km.
Quando entrei na ruta 16, o dia estava prestes a clarear, e mais uma vez fui presenteado com um amanhecer lindo e o dia se mostrou bom, sem muitas nuvens no céu, o que com o passar das horas até que não seria má idéia. Com o passar do tempo a temperatura foi aumentando, mas minha vontade de chegar também aumentava na mesma proporção.
As paradas eram apenas para abastecer, moto e piloto, o piloto somente água e gatorade e tudo muito rápido. A travessia de Corrientes foi infernal, um calor sem igual, aliás, parecido com o do deserto entre Neuquem e Santa Rosa, na Argentina enfrentado no Projeto Rumo Sul.
Após Corrientes o tempo foi ficando escasso e mais precisava andar rápido, mas como disse antes o calor não ajudava e como tudo pode piorar um pouco, apareceu um vento contra que fez a media da XT cair abaixo de 20 Km/l, pela primeira vez na viagem. Mas à medida que as dificuldades aumentavam, aumentava também a euforia de estar próximo do Brasil.
Quase no trevo antes de Possadas, onde entraria definitivamente no rumo do Brasil, uma grande nuvem se formou sobre o lago de uma hidrelétrica que existe na região, neste momento eu até torcia por uma chuva. Mais uma vez ela me cercou, porém não veio, no final foi até melhor, pois a essas alturas meu pneu traseiro já estava no bagaço com mais de 16000 Km rodados.
Quando cheguei em Santo Tomé, resolvi procurar um pneu novo pra motoca, perguntei para um porção de gente e ninguém sabia me informar lojas de pneus para motos, percbi que estava perdendo tempo e rumei pra fronteira.
Passava das 18 horas quando finalmente cheguei na aduana argentina, mas finalmente estava “em casa”. Tramites normais, sem maiores problemas e finalmente entrei no Brasil, ao chegar na BR 285, me dirigi a PRF, onde fui muito bem recebido por um agente, que falhei ao não perguntar o nome, começou me indagando de ponde estava vindo e que devia estar muito bom embaixo daquela minha roupa toda preta e muito pesada. Respondi que estava querendo chegar em casa e me perguntou onde morava, respondi POA e ele me recomendou Sta. Maria, Caçapava e 290 até POA. Não perdi mais tempo e me mandei, nisso eram mais de 19 horas.
Rumei a Santiago, pelas minhas contas era o sol me abandonaria e foi exatamente o que aconteceu. A estrada neste trecho estava boa, porém em obra e sem sinalização em vários trechos. Na chegada em Santiago parei em um posto para abastecer e perguntei a um caminhoneiro que estava no posto vindo de Santa Maria e me disse que a estrada esta do mesmo jeito que até Santiago.
A noite já estava plena no horizonte e tive mais uma decisão muito difícil pra tomar, seguir ou ficar por ali, o interessante é que embora na estrada desde as 5 da manha, não estava com sono, somente um pouco cansado, resolvi tocar mais um pouco.
Quando estava na estrada em direção a Santa Maria, pude perceber, embora a escuridão, que a estrada é muito bonita, merece uma ida de dia, e percebi também alguns sinais, eu acredito nessas coisas, primeiro dois graxains se atravessaram na minha frente o que é um drama para qualquer motociclista, mas um pouco depois apareceu um ônibus me “empurrando”, dei sinal e deixei-o passar, depois foi só aproveitar meu “batedor” até Santa Maria.
Na chegada parei em um posto, mais um, e percebi que havia bastante gente no restaurante entrei para comprar água, mais uma também, e o cheiro da comida me venceu. Pedi uma ala minuta, e perguntei se tinha feijão, a resposta foi positiva, fui na moto dei uma lubrificada na corrente e em seguida a comida estava pronta, fiz uma refeição divina, mas quase não consegui comer o bife, só salada e o arroz e o feijão que estavam muito bons. Após isto ficou impossível chegar em Porto Alegre, pois chegaria lá por volta das 3 da manha, como tinha saído as 5, seriam 22 horas andando na motoca.
Ao sair do restaurante fui entrar na cidade para procurar um hotel e logo na entrada vi um motel e resolvi parar, a primeira coisa que perguntei foi como eram as garagens, pois não estava a fim de desmontar toda a carga da moto, e a garagem me atendia muito bem, pois o portão fechava por dentro. Entrei e aproveitei um relaxante banho na hidro, e quase peguei no sono ali mesmo, fui, finalmente, ter uma noite descente de sono, com ar condicionado e uma boa cama.
Assim foi o dia em que percorri minha maior distancia de moto até hoje, e digo que foi uma experiência muito legal, mas vai a dica, quando o cansaço realmente chegar o negocio é parar e descasar.
Abraço a todos.

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